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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O olhar

Eu nem percebi quando tudo aconteceu. Talvez tenha começado com aquele primeiro olhar cruzado, ou então com aquele primeiro sorriso. Mas só sei que começou, muito rápido.

Minha vida parecia normal: Risos, bebidas, amigos... Tudo corria bem, e eu achava que era feliz. Mas descobri a verdadeira felicidade.

Era mais um dia comum, no qual estava eu fazendo coisas comuns, me preocupando com coisas comuns. Eu sentia o vento e o calor dos raios de sol na minha pele enquanto eu sorria de assuntos amenos acompanhados daqueles meus companheiros de aventuras e de festas. Então, maquinalmente, movi minha cabeça em direção a entrada daquele lugar onde estávamos, e não me arrependi de às vezes ser comandado no "Piloto Automático". Porque, ao mover meu pescoço, movi também meus olhos, e pude divisar ela, que vinha tão linda e tão despreocupada. Como que hipnotizados, meus olhos não conseguiam desgrudar daquela aparentemente tão perfeita criatura. Aí, aconteceu. Rindo, radiante, ela moveu sua cabeça movendo seus cabelos e seus olhos cruzaram com os meus, ainda vidrados. Meu temperamento tímido normalmente me obrigaria a desviar o olhar, mas daquela vez foi diferente; algo me fez continuar encarando-a, e assim mergulhei no chocolate de seus cabelos e olhos. E ela também me encarou, olhando profundamente nos meus olhos e logo em seguida sorriu, me fazendo olhar para trás para certificar que ela estava sorrindo para mim mesmo. Sua risadinha de aprovação também me fez rir e ficamos ali, segundos ou horas, conversando com nossos olhos, sinceramente. Minha mente adormecida ainda não havia percebido a palpitação acelerada de um certo músculo dentro do meu peito. Então alguém me chamou, desviei o olhar rapidamente e voltei, o mais rápido que pude, a procurar aquele olhar. Mas ela havia se virado, e estava desaparecendo da minha vista. Talvez eu estivesse atrasado para alguma coisa, talvez estivesse prestes a fazer algo muito importante, mas nada realmente importava naquele momento. O que apenas consegui fazer foi correr atrás dela, a dona daquele olhar. E enquanto corria, meu pensamento vagava entre aqueles olhos e o medo de estar errando ao correr.

Então, alcancei-a. Ofegante, segurei em seu ombro. Ela se virou e sorriu, com os olhos brilhando.
"Eu estava te esperando..." falou, com sua voz doce.
"Eu... passei minha... vida inteira... te procurando..." falei, enquanto tentava respirar, pois meu coração se contraía com tanta fúria que meus pulmões não conseguiam respirar direito.
Ela sorriu novamente. E eu também. Olhei para o chão, envergonhado e sem assunto. Suas mãos então levantaram o meu rosto, e quando fui olhar novamente para seu rosto, nossos lábios se uniram e senti, não só o fascínio do olhar dela, mas também o calor dos seus lábios. Meu coração possivelmente tenha parado e voltado a bater rapidamente em algum segundo. E eu senti, não só o contato físico, não só a respiração quente em meu rosto, mas algo mais, algo bom e novo. Não sei se era amor, ou paixão, ou qualquer coisa que as pessoas já me falavam, só sei que era bom, e eu queria ter aquele sentimento eternamente. Nossos lábios se separaram, e mais uma vez rimos, sincronizados, sem desconectar o olhar. Mergulhando mais uma vez naquele olhar, percebi que ela sentia o mesmo que eu estava sentindo naquele momento. Nossas mãos se entrelaçaram e caminhamos juntos, para a vida, para o amor...


Rafael Victor

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