Páginas

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Verbete

Amar: Verbo semi-intransitivo. Em sua transitividade apresenta existência condicional: apenas em voz reflexiva; do contrário, é qualquer outra coisa.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Same boat

Deu-se conta de que as afinidades humanas interligam as pessoas num âmbito superior ao das relações estabelecidas: unem seus destinos, ainda que na distância física e temporal. Por fim, todos acabam se encontrando no mesmo barco, uma embarcação ou nave gigantesca que navega lentamente por mares não explorados. E a solidão não tinha vaga.

Rafael Victor

domingo, 9 de novembro de 2014

Anti-cardíaco

Viva a gélido emoção felina que  nesse momento me abate o miocárdio.
Viva também o calor vulcânico que ludibria esse reles encéfalo, que se julga lítico, anti-cardíaco.

Morte a His! Morte a Purkinje!
Deixem-me ser ausente.
Deixem-me ser silencioso.
Deixem-me abandonar essa hostil natureza pulsante que me rouba o oxigênio!

Serei tal glacial, tanto a ponto de.
Isolamento, internamente, da mais enérgica estrela  que, a seu ditoso tempo, me fará o obséquio de sublimar a extenuante solidez externa.

E tudo, uma vez mais, será vibrante.
E tudo, mais uma vez, será luminoso.
E tudo será, novamente, aquecido e pulsante.

E de felino, serei cachorro, lobo caçador.
De lítico serei brisante, diáfano dançante sobre matérias ondulantes.
E, de Anti-cardíaco, serei Cerebral.
Ainda mais: serei Límbico.

Rafael Victor

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Recém-liberto

A sensação de recém-liberdade é como a de um pássaro que, miraculosamente, conseguiu retirar de suas asas todo o petróleo viscoso que pesava e o impedia de alçar sua simbólica liberdade. Como é bom voar...


Rafael Victor

Sirius, madrugadas e cachos


Sim! Havia alguém. Existia uma tal pessoa, assim, que o fazia sentir-se leve. Sentir-se fluido. Até mesmo feliz. E o simples encontrar com essa pessoa (que a cada momento se afirmava como qualquer coisa, exceto simples) era capaz de trazer uma verdadeira Sirius desvirginando a escuridão de sua vida que, em nenhuma das madrugadas nunca antes vistas, não possuía sequer a ideia de um ponto luminoso. Então, naqueles momentos era assim: tudo luz e calor. Luz, calor, olhos miúdos sorridentes, e cachos. Ah, os cachos... Além dos olhos, do sorriso, dos pulos sobre as ancas dele, sobretudo os cachos. E ele, assim, se julgava encantado com um anjo, anja, arcanjo, divindade, tal grau atingia seu romantismo marinho. E a tal pessoa, em todo seu jarro aerífero, se deleitava com a alta estante em que estava alocada na vida dele. E até se ria um pouco.

Mas houve ventos, tempestades, coisas da vida, e tudo ficou nublado. Graças às  nimbus, cumulus e cumulus-nimbus, por ora apelidadas por ele de distância, tempo e ausência, ainda existia aquele amargo saudosismo, aquela falta tremenda de seu jarro cheio de cachos, que só cooperavam em trazer a escuridão de volta, escondendo a luz, fazendo sumir a esperança, trazendo de volta o breu típico das madrugadas nunca antes vistas.

Onde estará agora a branca-azulada Sirius que emitia tanta energia térmica e eletromagnética, hibridizando as negras madrugadas em dias azuis, em domingos sorridentes? Onde estará ele agora, sem nenhuma cor visível, sem aquelas pernas ao redor de seu tronco, sem aqueles sorrisos pupilares, sem aquele jarro naquela estante alta, e, sobretudo, sem aqueles cachos? Se não havia nada antes, decerto está no nada agora. Se algo importava antes, será que algo importa agora?

Talvez esteja em busca. Em busca de calor, de luz. Da Sirius, das pernas sobre as ancas. Dos Olhos, dos pulos e das pupilas. Do jarro e da estante alta. Talvez esteja em busca. Sobretudo, dos Cachos.



Rafael Victor

Inspirado em pessoas, fatos, sentidos, imaginações e escrito quase ao som de "Explode Coração", Gonzaguinha.

Frase sem efeito

A vida não é mãe, é madrasta. Mais que isso: é capoeirista; não cansa de dar rasteiras, em sequência. Ainda bem que a gente sabe pular.

Rafael Victor

domingo, 2 de novembro de 2014

Sobre atuar

Não quero viver na dura realidade, encarando a verdade crua do mundo semi-material, fantasiando problemas e soluções. Quero vivenciar minhas fantasias, criando dentro de minha própria realidade particular, com toda minha verdade.

Rafael Victor

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Você

De repente você muda tudo, e tudo muda você.
Você que andava sozinho, agora anda acompanhado.
Você que com tudo se emocionava, chorava, agora se surpreende com as risadas que dá frente a tudo.
Você que sempre se desesperava, agora, seja por exaustão, seja por evolução, se depara tranquilo com as vicissitudes.
Você, que costumava sofrer por amores platônicos, agora voa livre entre vários amores e, contra sua vontade, é alvo do platonismo de outrem.
Você que costumava sonhar acordado, agora acorda dentro dos sonhos e os torna sua realidade particular.
Você, que se entregava à apatia ociosa, agora se lança ao superlativo furacão de atividades.
Você, que ansiava por se entregar aos braços do anjo mais piedoso para com a humanidade, agora aceita e até se deleita com as vastas possibilidades que a vida física pode lhe trazer.
Você que tinha medo de tudo, continua com vários medos, mas agora se permite ousar.
E por mais mudanças que tenham havido, você continua você, mais do que nunca você. E você, aos poucos, sem perceber, aceita você, assim, como é. 


Rafael Victor

domingo, 25 de maio de 2014

Que seja

Que seja intenso, que seja tenso, que seja calmo
Que seja rápido, apressado e demorado
Que seja manso, sensível, delicado
Que seja perigoso, que seja proibido, libidinoso
Que seja puro, cândido, Diáfano
Que seja tangível, incandescente, palpável
Que seja diferente,  que seja normal, variável
Que seja meu, que seja seu, que seja nosso
Que seja até vosso, e não somente meu
Mas que seja verdade, que seja real,
Que seja...


Rafael Victor

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Astrolóquios

No início era só Peixes, com um toque de Sagitário. Mas era só. Então surgiram alguns Aquários e tantos outros Gêmeos. Porém vieram e já se foram, há muito. Virgens apareceram, dançaram, riram, fugiram. Por fim, Peixes encontrou mais Gêmeos e Virgem, e esses nem ficaram nem se foram, simplesmente estiveram em algum lugar próximo ou distante. Mudando de foco, chegou Touro, mas Touro trazia consigo um Caranguejo qualquer. No mesmo momento, Escorpião fugiu com a chegada de Leão, que era mansinho. Leão ficou e provavelmente ficaria por muito mais tempo. Mas era mansinho pois já possuía seu reino, bem na selva. 
E Peixes, em toda essa nadada, era só Peixes, com um toque de Sagitário. Até que esbarrou em outro da sua espécie, outro que já havia avistado em outras paragens, signo mais encantador que existia. Era Peixes, bem a sua frente. Se encantou e encantou. Mas morria de medo de carneiros e Áries vinha logo atrás, sempre dominador. Fugiu, apressadamente...
E no fim era só Peixes, com um toque de Sagitário. Mas seria esse o fim? Preferia acreditar que não.

Rafael Victor

Vendaval

Veio como o vento. Como um vendaval. Entrou pela boca, olhos, ouvidos, narinas e fez uma bagunça por dentro. Tornou-se furacão em tão pouco espaço e tirou tudo do lugar. A cavidade já estava tão vazia e tão cheia daquele vento todo, quando esse cessou e escapou sorrateiramente pelos mesmos orifícios que entrou. E o interior ficou vazio, sem vento nem nada. Só havia, sei lá, saudade.

                                                             Rafael Victor

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Jamais

Disse que jamais conhecera o amor, ou soubera o que era paixão.
Mas de repente, acreditou sentir, duplamente sentido.
E como sempre, surpassou os próprios fatos
E mais uma vez, experimentou a solidão.
Desistiu mais uma vez...

Rafael Victor