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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Sirius, madrugadas e cachos


Sim! Havia alguém. Existia uma tal pessoa, assim, que o fazia sentir-se leve. Sentir-se fluido. Até mesmo feliz. E o simples encontrar com essa pessoa (que a cada momento se afirmava como qualquer coisa, exceto simples) era capaz de trazer uma verdadeira Sirius desvirginando a escuridão de sua vida que, em nenhuma das madrugadas nunca antes vistas, não possuía sequer a ideia de um ponto luminoso. Então, naqueles momentos era assim: tudo luz e calor. Luz, calor, olhos miúdos sorridentes, e cachos. Ah, os cachos... Além dos olhos, do sorriso, dos pulos sobre as ancas dele, sobretudo os cachos. E ele, assim, se julgava encantado com um anjo, anja, arcanjo, divindade, tal grau atingia seu romantismo marinho. E a tal pessoa, em todo seu jarro aerífero, se deleitava com a alta estante em que estava alocada na vida dele. E até se ria um pouco.

Mas houve ventos, tempestades, coisas da vida, e tudo ficou nublado. Graças às  nimbus, cumulus e cumulus-nimbus, por ora apelidadas por ele de distância, tempo e ausência, ainda existia aquele amargo saudosismo, aquela falta tremenda de seu jarro cheio de cachos, que só cooperavam em trazer a escuridão de volta, escondendo a luz, fazendo sumir a esperança, trazendo de volta o breu típico das madrugadas nunca antes vistas.

Onde estará agora a branca-azulada Sirius que emitia tanta energia térmica e eletromagnética, hibridizando as negras madrugadas em dias azuis, em domingos sorridentes? Onde estará ele agora, sem nenhuma cor visível, sem aquelas pernas ao redor de seu tronco, sem aqueles sorrisos pupilares, sem aquele jarro naquela estante alta, e, sobretudo, sem aqueles cachos? Se não havia nada antes, decerto está no nada agora. Se algo importava antes, será que algo importa agora?

Talvez esteja em busca. Em busca de calor, de luz. Da Sirius, das pernas sobre as ancas. Dos Olhos, dos pulos e das pupilas. Do jarro e da estante alta. Talvez esteja em busca. Sobretudo, dos Cachos.



Rafael Victor

Inspirado em pessoas, fatos, sentidos, imaginações e escrito quase ao som de "Explode Coração", Gonzaguinha.

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