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quarta-feira, 30 de maio de 2012

Vento no Litoral

De tarde quero descansar; chegar naquela praia e ver se o vento ainda está forte e vai ser bom subir nas pedras. Sei que faço isso pra esquecer... Eu deixo a onda me acertar e o vento vai levando tudo embora. Agora está tão longe... Ver a linha do horizonte me distrai: dos nossos planos é que eu tenho mais saudade, quando olhávamos juntos na mesma direção... Aonde está você agora além de aqui, dentro de mim?

Agimos certo sem querer, foi só o tempo que errou. Vai ser difícil sem você porque você está comigo o tempo todo. Quando vejo o mar existe algo que diz: que a vida continua e se entregar é uma bobagem. Já que você não está aqui o que posso fazer é cuidar de mim. Quero ser feliz ao menos! Lembra que o plano era ficarmos bem?


Ei! Olha só o que eu achei! Cavalos Marinhos!!

Sei que faço isso pra esquecer, eu deixo a onda me acertar...




Renato Manfredini Júnior





Desabafo: Isso ou Aquilo

Não. Já disse que não preciso saber disso ou daquilo pra ser algo mais do que já sou. Não preciso e nem quero. Não quero falar disso ou daquilo pra fulano ou beltrano pra provar nada pra ninguém. Não, já disse que não! Não preciso viver correndo atrás disso ou daquilo e não chegar a lugar nenhum, ou até chegar, porém sem encontrar nenhum significado relevante para mim. Não quero conhecer isso ou aquilo só para me gabar ou para ser admirado ou, ainda, para ser reconhecido como alguma coisa por "alguéns" que não são nada. Quantas vezes vou ter que gritar que NÃO!! Não quero, não posso, não tenho jeito! Não quero viver de aparência ou fingir isso ou aquilo quando eu não estou realmente sentindo. Não quero fazer isso ou aquilo obrigado, só porque é necessário que eu demonstre uma imagem aceitável para um conceito de pessoa completamente obtuso que permeia a mente dos fulanos e sicranos que a gente encontra em cada esquina. Não quero servir de palhaço e muito menos de alvo para todos os disparos de palavras ásperas, olhares ridículos e pensamentos tortos que alguns direcionam sem nenhum pudor. Não, não vim aqui pra isso! Também não quero, nem preciso, ser forçado a falar isso ou aquilo que eu não quero, e que isso soe estranho e grosseiro saindo de minha boca, só pra fazer alguns calarem a boca.

O que eu quero realmente é ser feliz. Viver intensamente a vida que me foi outorgada me livrando de todo o sofrimento possível. Quero estar rodeado de pessoas verdadeiramente pessoas e que sabem conviver com pessoas como pessoas. Quero amar, e ser amado em troca. Não quero fazer sofrer, bem como não quero sofrer. Quero correr atrás do que realmente importa e não atrás do que outros acham relevante. Quero ter a alma leve a ponto de sentir meu corpo flutuando. Quero, e preciso, rir, gargalhar ao menos um sexto do dia. Chorar? às vezes faz bem, mas de preferência que seja de tanto rir! Quero descobrir, aprender, saber tudo o que eu quiser e ter isso só pra mim e pra utilidades que eu achar para esse conhecimento. Quero proteger e ser protegido. Quero beijar e ser beijado. Quero abraçar e quero um abraço, forte, apertado, que aqueça minha alma e que alivie minha dor. Enfim, quero ser eu , e somente eu. E como já disse no passado, eu sou o que sou e o quero ser; não sou isso ou aquilo; sou o que falo, o que penso, o que sei, o que sinto, o que vivo, o que escrevo...



Rafael Victor

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Além do Arco-Íris

Naquele dia, eu estava caminhando, lentamente, de cabeça baixa, como na maioria dos dias. Não estava apressado; meus passos eram curtos e num ritmo lento, e minha cabeça pendia cheia de pensamentos. Alguma parte de minha consciência conseguia perceber e assimilar as informações do ambiente que formava meu caminho: alguns poucos matos molhados, outras tantas poças de lama, tudo indicava a chuva que havia caído naquela madrugada antes da manhã quente e ensolarada de maio em que me encontrava. E foi assim, absorto em divinações e especulações acerca da vida cotidiana que cruzei uma de tantas poças d'água e que, em cuja água tinha refletida a estonteante luz do sol. Esse reflexo atingiu meus olhos como pequenas flechas, e meio perdido, fui obrigado a parar de andar e levantar a cabeça enquanto me recuperava daquele ofuscamento. E, enquanto minha limitada visão se recuperava, pude avistar o belo, o grande arco-íris que se formava no céu naquela manhã. Por alguns instantes fiquei fascinado com aquele atualmente raro fenômeno. Porém, lembrando de certas lendas e histórias de conhecimento popular e alimentando uma esperança de teor bastante infantil, decidir ir até ele, até seu final. Se fosse verdade o que ouvi, no fim dele poderia ter algum tesouro, algo capaz de mudar uma vida. E era justamente disso que eu precisava, uma mudança. Enquanto pensava, corria, sorrindo, chorando, escorregando, caindo, levantando,me despindo todo o falso pudor próprio da hostilidade do mundo adulto. E, como num sonho, consegui chegar ao fim do arco-íris. E como eu previra, mas quisera enganar a mim mesmo, não havia nada lá. Apenas um desaparecimento do feixe de luz que formava tal fenômeno. E eu, ofegante e suado, sujo de lama e folhas de grama, quis despencar ali mesmo. Talvez uma de minhas últimas esperanças tivesse sido destruída por um simples lampejo de ingenuidade. Meus joelhos já tremiam e dobravam levemente para cair no chão com todo meu peso sobre eles quando vi, do outro lado do arco-íris, o meu tesouro. Vi você, também suada, também ofegante, também ingenuamente atrás de um sonho infantil. Atrás de algo que pudesse mudar sua vida. E ao olhar para você e lhe ver na mesma situação patética que eu não pude fazer mais nada além de sorrir; e você também sorriu. E por um curtíssimo minuto, ficamos ali, nos olhando e rindo de nossas próprias leseiras, de nossas próprias infantilidades. Então nos movemos, sincronicamente, em direção um do outro. E  quanto mais chegávamos perto, o arco-íris ia sumindo lentamente, até ficarmos frente a frente, nossos rostos quase encostados, sentindo a respiração, ouvindo os batimentos cardíacos. E ao sumir completamente o Arco luminoso sobre o sol, nossas vidas se transformaram, permanentemente. 




Rafael Victor