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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Além do Arco-Íris

Naquele dia, eu estava caminhando, lentamente, de cabeça baixa, como na maioria dos dias. Não estava apressado; meus passos eram curtos e num ritmo lento, e minha cabeça pendia cheia de pensamentos. Alguma parte de minha consciência conseguia perceber e assimilar as informações do ambiente que formava meu caminho: alguns poucos matos molhados, outras tantas poças de lama, tudo indicava a chuva que havia caído naquela madrugada antes da manhã quente e ensolarada de maio em que me encontrava. E foi assim, absorto em divinações e especulações acerca da vida cotidiana que cruzei uma de tantas poças d'água e que, em cuja água tinha refletida a estonteante luz do sol. Esse reflexo atingiu meus olhos como pequenas flechas, e meio perdido, fui obrigado a parar de andar e levantar a cabeça enquanto me recuperava daquele ofuscamento. E, enquanto minha limitada visão se recuperava, pude avistar o belo, o grande arco-íris que se formava no céu naquela manhã. Por alguns instantes fiquei fascinado com aquele atualmente raro fenômeno. Porém, lembrando de certas lendas e histórias de conhecimento popular e alimentando uma esperança de teor bastante infantil, decidir ir até ele, até seu final. Se fosse verdade o que ouvi, no fim dele poderia ter algum tesouro, algo capaz de mudar uma vida. E era justamente disso que eu precisava, uma mudança. Enquanto pensava, corria, sorrindo, chorando, escorregando, caindo, levantando,me despindo todo o falso pudor próprio da hostilidade do mundo adulto. E, como num sonho, consegui chegar ao fim do arco-íris. E como eu previra, mas quisera enganar a mim mesmo, não havia nada lá. Apenas um desaparecimento do feixe de luz que formava tal fenômeno. E eu, ofegante e suado, sujo de lama e folhas de grama, quis despencar ali mesmo. Talvez uma de minhas últimas esperanças tivesse sido destruída por um simples lampejo de ingenuidade. Meus joelhos já tremiam e dobravam levemente para cair no chão com todo meu peso sobre eles quando vi, do outro lado do arco-íris, o meu tesouro. Vi você, também suada, também ofegante, também ingenuamente atrás de um sonho infantil. Atrás de algo que pudesse mudar sua vida. E ao olhar para você e lhe ver na mesma situação patética que eu não pude fazer mais nada além de sorrir; e você também sorriu. E por um curtíssimo minuto, ficamos ali, nos olhando e rindo de nossas próprias leseiras, de nossas próprias infantilidades. Então nos movemos, sincronicamente, em direção um do outro. E  quanto mais chegávamos perto, o arco-íris ia sumindo lentamente, até ficarmos frente a frente, nossos rostos quase encostados, sentindo a respiração, ouvindo os batimentos cardíacos. E ao sumir completamente o Arco luminoso sobre o sol, nossas vidas se transformaram, permanentemente. 




Rafael Victor

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