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domingo, 1 de julho de 2012

Mar, Chuva e Lágrimas

Saiu correndo de casa e foi até a praia. Chegando lá, em frente ao mar, aquela imensidão azul que o sempre confortava, quis chorar, mas as lágrimas não quiseram cair. Sentiu aquele cheiro salgado, ouviu o som das ondas bravias batendo na areia, sentiu levemente o calor do sol poente enquanto fechava os olhos, querendo esquecer de tudo. A brisa suave empurrou seu rosto e seu corpo e ele se jogou na brisa, caindo deitado na areia. E foi de tudo o que ele precisava. Ficou ali, imóvel, ainda ouvindo o som da água, que desde criança ajudava-o a relaxar. Sentia também o pinicar da areia em todo o seu corpo, irradiando ainda o calor de um dia inteiro de sol forte. E ali ele se sentiu confortável demais para se mover.

Só havia um motivo para ele ter chegado tão apressado àquela praia deserta, naquele cantinho secreto que ele sempre ia: queria esquecer, não queria sentir, simplesmente isso. Esperava que toda aquela energia natural o reintegrasse ao jeito que ele estava acostumado a ser. E que pelo menos uma lágrima escorresse pelo seu rosto, para assim aliviar dores de sua mente, de seu coração.

Mas ele simplesmente não podia. Não conseguia chorar. E muito menos se esquecer. Pelo menos era isso que ele queria. Queria não, precisava. Mas não podia. E agora ele se arrependia de todas as decisões que havia feito antes de toda essa situação que solitariamente e, praticamente voluntariamente.

Sim, logo ele, que havia decidido não sentir mais, agora sentia. Escolheu, há algum tempo, não sentir certos sentimentos, e, até certo ponto, havia conseguido. Negou alguns desses sentimentos o quanto pode, mas agora não podia. E para continuar a lista de "mas" e "poréns", agora também não havia mais tempo. Só sobrara o sofrimento.

Muitas cenas permeavam sua mente agora. Ali, deitado na areia, em frente aquele mar maravilhoso, com o céu agora tingido de um azul quase escuro caracterizando o crepúsculo, seu coração queria se arrepender de todas as impertinências de sua mente. Mente essa que controlou tanto o que o coração sentia que hoje só restou o sofrimento.

E em meio a tantos dilemas, as ondas foram ficando ainda mais bravias, as nuvens foram cerrando o céu, tornando-o ainda mais escuro, e um trovão ribombou na distância: uma tempestade se formava. E logo, logo, a chuva torrencial começou, ensopando o garoto ali deitado, lavando até sua alma. Agora sim, ele conseguiu chorar. Chorou, junto com a natureza. E a água que surgiu de seus olhos se uniu com aquela água que surgia dos céus e acabaram por limpar seu coração e sua mente.

Então, mesmo com todo o peso da água dificultando, ele se levantou. Olhou para o mar, enxugou as lágrimas (figurativamente, apenas). "Não, eu não sou assim!", pensou, "Não é algo tão pequeno assim que irá me derrubar...". Então a chuva parou, o mar se acalmou, as nuvens se dissiparam, deixando à mostra um céu azul marinho bastante escuro permeado de estrelas. Ao longe, só se via o leve contorno da lua nova, tornando a noite ainda mais escuro. E ali, em meio a escuridão, o garoto riu, gargalhou, balançando a cabeça. Bateu na roupa para tirar a areia (que naquela altura já havia virado lama!), olhou novamente pro mar, aquele seu amigo que sempre lhe ajudava, olhou para o céu e para algumas estrelas em particular, que lhe lembravam de momentos em particular também e mais uma vez sorriu. Depois se tocou o quanto era tarde e como o tempo havia passado de maneira imperceptível. E do mesmo jeito apressado que chegou, foi embora, agora rindo, às gargalhadas, um pouco insano, talvez...


Rafael Victor

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